quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Caso de Brumadinho: a mineradora poderá valer-se do limite de indenização oriundo da Reforma Trabalhista?

     Olá, meus amigos e minhas amigas.

O teto indenizatório imposto pela Reforma Trabalhista se aplica ou não ao caso da tragédia de Brumadinho?
Publiquei um artigo sobre isso no site da Conjur: espero que gostem!
O link é este: https://www.conjur.com.br/2019-jan-31/carlos-oliveira-teto-indenizatorio-clt-nao-aplica-brumadinho.
De qualquer forma, transcrevo o texto abaixo.
Abraços
Carlos E Elias

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   Caso de Brumadinho: a mineradora poderá valer-se do limite de indenização oriundo da Reforma Trabalhista?

Carlos Eduardo Elias de Oliveira
Doutorando, mestre e bacharel em Direito pela Universidade de Brasília (UnB). Advogado-parecerista. Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no concurso de 2012). Ex-Advogado da União. Ex-Assessor de Ministro do STJ. Professor de Direito Civil e Direito Notarial e de Registros Públicos.

Data de elaboração: 28 de janeiro de 2019



       Paira rumores sobre a possibilidade jurídica de a mineradora causadora da catástrofe ambiental ocorrida em Brumadinho vir a invocar o limite de indenização por dano extrapatrimonial pelos danos sofridos por seus funcionários. 
        O sinistro consistiu no rompimento de uma barragem que enterrou, com lama e sangue, centenas de pessoas, de animais, de residências, de estabelecimentos comerciais e também de sonhos na região da cidade de Brumadinho/MG no final do mês de janeiro de 2019. Entre os que partiram, estavam inúmeros funcionários da mineradora proprietária da dissolvida barragem.
      Nesse contexto, indaga-se: poderia a mineradora escusar-se a pagar mais do que 50 vezes o salário contratual de cada funcionário vitimado a título de indenização por dano moral, sob a alegação de que se trataria de acidente de trabalho e de que o inciso IV do § 1º do art. 223-G da CLT, nascido com a famosa Reforma Trabalhista, preveria esse teto?
          Entendemos pelo total descabimento da aplicação do teto da CLT.
          Em primeiro lugar, mesmo em relação aos empregados da mineradora, o sinistro em pauta caracteriza um acidente de trabalho apenas de modo reflexo. Ele, na verdade, representa um dano causado pelo fato de a mineradora ter arriscado exercer uma atividade ambientalmente perigosa à comunidade local e aos próprios funcionários. O fundamento do dever de indenizar aí não será a relação trabalhista, e sim a responsabilidade objetiva por danos causados pelo exercício de atividade potencialmente perigosa a terceiros com exploração do meio ambiente. Em outras palavras, o caso em pauta não trata de responsabilidade trabalhista por acidente de trabalho, e sim de responsabilidade por dano ambiental. Nesse ponto, recorda-se que a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, baseada na teoria do risco integral e direcionada a indenizar também as pessoas naturais e jurídicas que foram vítimas da catástrofe ambiental. É nesse sentido a orientação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, ilustrativamente, assegurou indenização a pescadores vítimas de tragédia ambiental com base no regime de responsabilidade civil por dano ambiental (STJ, REsp 1114398/PR, 2ª Seção, DJe 16/02/2012). Enfatize-se que é irrelevante se a mineradora teve ou não culpa pela tragédia, pois sua responsabilidade é objetiva com base na teoria do risco integral. Portanto, o fato de o caso em pauta fundamentar-se em responsabilidade civil por dano ambiental, e não em responsabilidade por acidente trabalhista, já afasta por si só a aplicação da CLT, com o seu teto indenizatório, para a discussão relativa à indenização por dano moral às vítimas da catástrofe ambiental, mesmo nas hipóteses de a vítima ser uma funcionária da mineradora.
        Em segundo lugar, o teto indenizatório da CLT chocaria com o princípio constitucional da isonomia se fosse aplicado ao caso em pauta. É que, se se admitir a aplicação desse teto contra os funcionários que tenham sido vítimas, chegaremos à indigesta conclusão de que, pelo mesmo fato (a letal inundação de lama), as vítimas haveriam de receber indenização diferente conforme sejam ou não funcionárias da mineradora. Portanto, uma interpretação conforme à Constituição impediria a aplicação do teto indenizatório da CLT ao caso em pauta.
        Em terceiro lugar, ainda que se admitisse que a hipótese é de responsabilidade trabalhista por acidente de trabalho, o teto indenizatório para o dano extrapatrimonial não seria aplicável para os casos de morte de funcionários, pois o inciso IV do § 1º do art. 223-G da CLT prevê limite de indenização apenas quando o credor é o funcionário ofendido, e não terceiros que, por reflexo, sofreram o dano por ricochete. Basta observar a redação do referido dispositivo, que insistentemente cuida do ofendido como credor da indenização, ofendido esse que só pode ser o empregado, que é parte da relação trabalhista. O teto indenizatório aplica-se apenas a indenizações por “danos de natureza extrapatrimonial decorrentes da relação de trabalho”: terceiros não são partes dessa relação de trabalho e, portanto, não são alcançados por esse limite previsto na CLT. Ora, se o funcionário faleceu afogado em meio ao lamaçal, seus familiares é que haverão de pedir indenização por dano extrapatrimonial na condição de vítima indiretas, que sofreram o dano por ricochete.
        Portanto, a invocação do teto indenizatório do § 1º do art. 223-F da CLT é totalmente descabida. Aliás, diante do contexto de grande comoção social que ronda o caso e tendo em vista o inequívoco dever moral que a mineradora tem de não opor resistência à indenização plena das vítima, entendemos que a invocação desse totalmente descabido argumento pela mineradora em eventual processo judicial atolará a sua empreitada judicial com a lama da má-fé, a recomendar a imposição de multa por litigância de má-fé na forma da lei processual.





sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Textos sobre a Lei do Distrato e sobre a Lei da Multipropriedade

     Olá, amigos e amigas!!

Em atenção aos alunos da Pós-Graduação em Direito Civil e Processo Civil da Atame/GO, compartilho o link dos textos sobre a Lei do Distrato e sobre a Lei da Multipropriedade.


1) MULTIPROPRIEDADE

  O meu texto sobre a Lei da Multipropriedade está neste link: https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/661740743/consideracoes-sobre-a-recente-lei-da-multipropriedade.

2) LEI DO DISTRATO

O texto da Lei do Distrato que eu escrevi com o amigo Bruno Mattos é intitulado "A RECENTE LEI DO DISTRATO (LEI Nº 13.786/2018):O NOVO CENÁRIO JURÍDICO DOS CONTRATOS DE AQUISIÇÃO DE IMÓVEIS EM REGIME DE INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA OU DE LOTEAMENTO". Ele pode ser encontrado neste link: http://www.flaviotartuce.adv.br/artigos_convidados.

Esse texto também está neste link: https://www.conjur.com.br/2019-jan-09/opiniao-lei-distrato-contratos-aquisicao-imoveis.

A propósito, compartilho também link de texto do Prof. Flávio Tartuce com o Prof. Marco Aurélio tratando da Lei do Distrato: http://professorflaviotartuce.blogspot.com/2019/01/primeiras-linhas-sobre-restituicao-ao.html.

Indico ainda texto do Prof. Rodrigo Toscano: https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/noticias/661822605/o-contrato-de-incorporacao-imobiliaria-deixou-de-ser-irretratavel-com-a-entrada-em-vigor-da-lei-13786-2018.

Aponto ainda o texto do Prof. Alexandre Gomide: https://www.migalhas.com.br/Edilicias/127,MI294366,31047-Lei+137862018+Lei+dos+Distratos+Primeiras+impressoes+a+respeito+da.


Abraços

Carlos E Elias


quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

HOMENAGEM AO MALANDRO E O DIREITO CONTEMPORÂNEO

     HOMENAGEM AO MALANDRO E O DIREITO CONTEMPORÂNEO
         (Carlos Eduardo Elias de Oliveira; Data de elaboração: 17/01/2019)

 O direito civil da velha Roma era mais rigoroso do que o direito civil atual: não admitia que o tempo curasse uma ocupação que havia nascido a partir de um vício. Como lembrava Clovis Bevilaqua, valia a regra: quod ab initio vitiosum est non potest tractu temporis convalescere (o que é viciado desde o seu início não pode convalescer pelo transcurso do tempo).

Hoje, somos mais tolerantes, o que, em algumas vezes, só estimula a malandragem. Para adquirir um direito, o malandro pratica a fraude e, depois, invoca o efeito curativo do tempo. O malandro deve ser homenageado no direito atual.

Por exemplo, enquanto um ilibado indivíduo consegue, em geral, adquirir a casa própria com os seus 60 anos de idade após quitar o financiamento habitacional, o malandro consegue, em apenas 5 anos, tornar-se proprietário por meio do usucapião elogiosamente batizado de especial urbano. Parece ser o tempo de repensarmos esse prestígio excessivo ao malandro em todos os ramos do Direito Civil. Dar tantas regalias a indivíduos de má-fé soa como estímulo à maladragem, o que é ruim para o desenvolvimento do país como um todo.

Seja como for, atualmente, em nome da função social, da dignidade da pessoa humana e de outras categorias abertas do direito atual, continuaremos a ter “malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal”, como lembra Chico Buarque.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Entrevista sobre a recente Lei da Multipropriedade na Rádio Justiça

Falei hoje sobre a recente Lei da Multipropriedade na Rádio Justiça, explicando o instituto e abordando questões polêmicas. Os interessados podem ouvir a entrevista neste site a partir do minuto 34:12: http://www.radiojustica.jus.br/radiojustica/programacao!listarAudioRelacionado.action?menuSistema=&entity.id=259353#.