OS LIVROS DO MEU AVÔ
Ele me mostrava sempre um exemplar de uma das mais famosas obras do meu avô, “Criminologia das Multidões”. Tratava-se de obra cuja capa carregava referências elogiosas de grandes juristas brasileiros - como o Ministro do STF Bento de Faria - e estrangeiros - como o jurista argentino Augustín Venturino.
Ainda na minha infância, eu me restringia a folhear aquele raríssimo exemplar e - para ter em mãos munições retóricas - tentava decorar alguns excertos metafóricos que descreviam o terror daqueles que são sacudidos pela irracionalidade do movimento desordenado de uma multidão.
Não ousava, porém, levar aquele único exemplar para fora de casa, apesar do desejo de carregá-lo a tiracolo por todo lugar.
Na semana passada, em um daqueles lampejos que iluminam o que é óbvio, pensei: vou procurar nos sebos on-line as obras do meu avô para, finalmente, conseguir ter um exemplar em casa.
Bingo!
Achei alguns poucos exemplares da “Criminologia das Multidões” - não mais do que quatro - disponíveis para venda. Achei ainda outra obra do meu avô sobre crime contra economia popular.
Arrematei logo todos os que eu podia. Sei que eu só preciso de um livro, mas não ousarei deixar que os raros exemplares fiquem a vagar por aí.
Pretendo ter o monopólio ou, no mínimo, o oligopólio, já que meu pai e algumas bibliotecas possuem exemplares.
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